Linha Direta - Justiça: O Crime do Sacopã
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 Published On Apr 27, 2020

Programa do dia 07/10/2004

Na manhã de 07 de abril de 1952, o corpo do bancário Afrânio Arsênio de Lemos, 31 anos, desquitado, morador do bairro do Engenho Novo, no subúrbio carioca, foi encontrado dentro de um Citroën negro, na Ladeira do Sacopã, Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele fora morto com três tiros de revólver calibre 32. O corpo também apresentava 14 ferimentos provocados por coronhadas. No carro, além do cadáver, documentos da vítima, dois estojos de baton, um par de brincos, um caderninho de telefones e a foto de uma moça, cujo verso trazia uma dedicatória de amor endereçada ao bancário assassinado. A investigação do crime já começou tumultuada. Houve uma guerra de vaidades entre policiais de dois distritos e a polícia técnica, por causa da imensa repercussão do caso. A perícia técnica levantou 11 impressões digitais e palmares dentro e fora do Citroën, mas não identificou nenhuma. O comissário Rui Dourado antes de iniciar a investigação, já havia descoberto a moça do retrato: Marina Andrade Costa, de 18 anos, uma aluna do Colégio Andrews, moradora da Urca. Marina foi ao 2º Distrito e contou que tivera um romance com Afrânio, mas que terminara depois de descobrir que ele era desquitado. Logo após Marina deixar o distrito, seu namorado, o tenente-aviador da Aeronáutica, Alberto Jorge Franco Bandeira, de 22 anos, esteve no DP a sua procura. Por um acaso, ele foi atendido pelo mesmo policial que conversara com Marina, o comissário Rui Dourado. O crime tinha os ingredientes necessários para chamar a atenção da imprensa. Era uma época em que não havia novelas na televisão e os crimes não estavam tão integrados no nosso cotidiano como hoje. Um cadáver desovado dentro de um carro era um fato incomum. Eram os anos dourados. A história ganhou ares de folhetim e passou a ser acompanhada com paixão pelo povo, dia-a-dia, através dos rádios, jornais e revistas. Mas a investigação da polícia, recheada de provas circunstanciais, caminhava na direção do tenente Bandeira. E a conclusão era de um crime passional simples: namorado de Marina, Bandeira não admitia a existência de Afrânio entre eles. Marcou um encontro para tirar satisfações com o rival. Afrânio apanhou Bandeira na porta do Iate Clube, na Urca, e seguiram para a Lagoa, onde discutiram e Bandeira matou Afrânio. Em seguida, Bandeira levou o Citroën com o cadáver de Afrânio para a deserta Ladeira do Sacopã. Dali, através de uma trilha, chegou à casa da avó, na Rua São João Batista, em Botafogo. Montou um álibi. Pegou um táxi e voltou para a Urca, por volta de uma hora da manhã. No dia seguinte, alegou que, como todos os demais cidadãos do Rio de Janeiro, soube da morte de Afrânio pelos jornais. A inserção de Bandeira na história, trouxe ainda mais glamour ao caso. Surgia um galã, com sua farda de aviador e bigodinho à moda Hollywood. Além do mais, ele teria matado pelo amor de Marina. Bandeira foi condenado a 15 anos de cadeia. Cumpriu a metade da pena e foi beneficiado com livramento condicional. Mas logo depois, o presidente Juscelino Kubitschek concedeu indulto ao então ex-tenente. Bandeira fez várias tentativas junto à Justiça pela sua reintegração à Aeronáutica, mas só teve sucesso 20 anos depois, quando seus advogados conseguiram a anulação do julgamento no Supremo Tribunal Federal. É bom que fique bem claro que o tenente Bandeira nunca foi absolvido. O julgamento foi anulado por filigranas jurídicas. Bandeira teria que submeter-se a novo júri, mas como o crime estava prestes a prescrever, faltou aos três julgamentos marcados.

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