Published On May 8, 2016
Capineiro de meu pai
Não me corte os meus cabelos
Minha mãe me penteou
Minha madrasta me enterrou
Pelo figo da figueira que o Passarim beliscou
Companheiro que passas pela estrada
Seguindo
Pelo rumo do sertão
Quando vires
A casa abandonada
Deixe-a em paz dormir
Na solidão
Que vale o ramo do alecrim cheiroso
Que lhe atiras no seio ao passar
Vai espantar o bando, o bando buliçoso.
Das mariposas que lá vão pousar
Esta casa não tem lá fora
A casa não tem lá dentro
Três cadeiras de madeira
Uma sala a mesa ao centro
Esta casa não tem lá fora
A casa não tem lá dentro
Três cadeiras de madeira
Uma sala a mesa ao centro
Rio aberto barco solto
Pau d’arco florindo a porta
Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha morta
Sob o qual ainda há pouco
Eu enterrei a filha morta
Aqui os mortos são bons
Pois não atrapalham nada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estrada
Pois não comem o pão dos vivos
Nem ocupam lugar na estrada
Nada
A velha sentada o ruído da renda
A menina sentada roendo a merenda
Nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada.
Aqui não acontece nada não
Nada
Nada
Nada
Nada absolutamente nada
E o aguapé lá na lagoa
Sobre a água nada
E deixa a borda da canoa
Perfumada
É a chaminé à toa
De uma fábrica montada
Sob a água que fabrica
Este ar puro da alvorada
Nada, nada, nada, nada, nada, nada
Aqui não acontece nada não
Nada
Nada, nada, nada, nada, nada, nada
Nada absolutamente nada.
(Versão gravada no disco Soro, de Fagner, lançado em 1979, e posteriormente regravada no disco Objeto Direto de Belchior (de 1980). A canção teve como inspiração o poema A Cruz da Estrada, de Castro Alves, de 1865.)