Padre José Maria Xavier - Ofício de Trevas - Matinas de 5a. Feira Santa - Marcelo Ramos
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 Published On Apr 6, 2020

Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais
Eliseth Gomes, soprano / Luciana Monteiro, mezzo soprano
Robert Blake, tenor / José Carlos Leal, baixo

Texto do maestro Marcelo Ramos, que fez a edição e revisão das partituras, além da regência e direção geral do projeto:

Sempre ouvi o ofício de trevas desde criança e, na adolescência, comecei a participar da celebração como coroinha na Catedral do Pilar. Todos nós que ouvíamos essa música uma vez ao ano, sabíamos que se tratava de uma obra de qualidade. Ao propor este projeto, imaginei retribuir a alegria que esses momentos me proporcionaram, imortalizando o Padre José Maria, neste que é o primeiro registro profissional de sua obra.
Para realizar esse sonho, contei com a colaboração da Fundação Clovis Salgado, através de seus corpos artísticos - Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de MG, residentes no Palácio das Artes em Belo Horizonte. Dedico este trabalho primeiramente a meu pai, o compositor Geraldo Barbosa (1938-2011), e a todos que, como eu, querem ouvir as matinas e laudes do Padre José Maria Xavier mais de uma vez ao ano!

Histórico:
O Ofício rezado solenemente nos três dias que antecedem o Domingo da Ressurreição é denominado Ofício de Trevas. Esta parte do Ofício Divino expressa, de modo admirável, através das orações, salmos, lamentações, leituras e responsórios, os sentimentos que envolveram Nosso Senhor Jesus Cristo na sua Paixão e Morte.

A tradição que envolve o ofício é antiquíssima. Esta denominação de Trevas está envolvida num contexto ritualístico, extremamente rico em simbologia, e merece uma justificativa litúrgica. Desde o séc. VII, celebra-se com orações as exéquias do Senhor. No séc. VIII, a liturgia franco-romana já conhecia o apagar das luzes durante o ofício. Desde o séc. XII, o nome Ofício de Trevas indicava a oração noturna (matinas e laudes) do ofício divino. As matinas e laudes rezadas seguidas contam 14 salmos, 9 leituras (incluindo 3 lamentações do profeta Jeremias em latim) e 9 responsórios. É "de trevas", pois, no decorrer dele, apagam-se sucessivamente as 14 velas em memória das trevas que cobriram a Terra na morte do Senhor. Para este fim, usa-se um candelabro triangular com 15 velas.
A vela da ponta, a 15a., representa o Cristo. As outras representam os 11 apóstolos e as 3 Marias. Segundo vários autores medievais, apagar uma vela após cada salmo significa o abandono de Jesus por seus seguidores, principalmente no horto. A liturgia antiga colocava a última vela acesa atrás do altar para trazê-la de volta mais tarde, ao amanhecer, simbolizando assim a morte e ressurreição do Senhor; em São João del Rei (MG), esta tradição permanece intocada até os dias de hoje.
No final do ofício, cantado em latim, era costume fechar os livros com força exagerada ou bater os pés no chão com veemência, simbolizando o terremoto que acompanhou a morte de Jesus e a destruição de Jerusalém.

Texto de J. Dângelo que acompanha o CD:
O Ofício de Trevas é, na realidade, o início de todo um ritual, quase em extinção, das solenidades da Semana Santa. Em São João del Rei, elas conservam-se intocadas, precedidas de uma faina e um labor coletivos. Nas sacristias, bastidores bentos deste grande palco religioso, é de ver-se os preparativos ritualísticos para a grande festa barroca. Reformam-se as tochas, rebordam-se paramentos, ornamentam-se as tribunas, povoa-se de flores a capela do Santíssimo, lustra-se o esquife, repara-se o pálio, fazem-se brilhar lanternas e custódias, enjarreiam-se os andores, engoman-se as opas, lavam-se as alvas, passam-se os hábitos, providenciam-se cartuchos de amêndoas, asas de anjos, trajes de figurados, capacetes de centuriões, incenso para os turíbulos, montam-se palanques, preparam-se os músicos de orquestra e banda, lustra-se as pratarias das bancadas. Uma atividade frenética domina uma centena de colaboradores sem qualquer remuneração. É a fé que nos move? A todos? Não importa. O ritual permanece vivo.

Biografia do compositor:
https://pt.wikipedia.org/wiki/José_Ma...

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